domingo, 14 de agosto de 2011

TEORIA E PRÁTICA: UM DIÁLOGO CONSTANTE NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR PESQUISADOR


O texto de um livro de literatura infantil: Nicolau tinha uma idéia... de Ruth Rocha, descreve com simplicidade a postura que promove o diálogo que deveria existir entre teoria e prática mostrando para o professor que ele não é apenas um profissional da prática, mas também da teoria.
“Era uma vez um lugar onde cada pessoa só tinha uma idéia na cabeça. [... Um dia, apareceu um homem chamado Nicolau. [...] Logo que Nicolau chegou, foi procurar João. E contou sua idéia a ele. E João ficou com duas idéias na cabeça. João contou a idéia dele para Nicolau. E Nicolau ficou com duas idéias na cabeça. Aí, Nicolau foi contar sua idéia para Maria. E Maria ficou com duas idéias na cabeça. E contou a Nicolau a idéia dela. Nicolau ficou com três idéias na cabeça. Nicolau falou com Pedro, com Manuela e uma porção de gente mais. Nicolau ficou cheio de idéias. E as idéias de Nicolau começaram a se misturar umas com as outras e a formar muitas outras idéias. Então, as pessoas começaram a achar que era muito divertido ter muitas idéias na cabeça. [...] E naquele lugar, agora, todo mundo tem uma porção de idéias.”
A simplicidade da história ajuda a entender a essência do diálogo que deveria ocorrer na educação. E entender essa essência, na prática, consiste em conseguir que, o conhecimento pedagógico especializado se autentica, na prática, por meio dos processos de reflexão, acessibilidade e observabilidade, já que um fator importante na capacitação profissional é a atitude do professor de planejar sua tarefa docente baseando-se nas concepções filosóficas, psicológicas e pedagógicas que deverão ser o alicerce do projeto pedagógico da instituição. (RAMOS, 2008)
Prática e teoria não devem caminhar isoladas, o professor precisa conhecer a teoria e levá-la para sala de aula para poder basear-se nela para analisar e resolver as situações que acontecem durante o processo educativo. Novamente nos deparamos com a importância do diálogo na ação pedagógica, em momento algum o professor pode caminhar sozinho ou guardar suas idéias para o trabalho individual em sala.
Ramos traz uma discussão dos anos 90 sobre o debate que cerceou a problemática da formação do professor-pesquisador, uma vez que se passou a dar maior importância à desmistificação da idéia de que a pesquisa seria algo ao alcance apenas de alguns eleitos, preferencialmente alocados na universidade. Deste modo, a defesa da formação do professor investigador teria o objetivo de articular teoria e prática pedagógica, pesquisa e ensino, reflexão e ação didática.
A universidade não prepara o professor para conhecer a teoria, lança durante o processo acadêmico pequenos fragmentos teóricos e em grande quantidade com enormes apostilas de vários teóricos sem o tempo mínimo de conhecer um pouco sobre o que está estudando.
Para Ramos pensar a formação inicial e a formação em serviço do professor, é pensar na sua própria identidade como agente mediador do conhecimento. Não devemos pensar o trabalho do professor como um trabalho mecânico e reprodutor dos meios sociais; temos que modificar as estruturas tão necessárias à educação em nosso país.
O professor ainda não tem consciência da sua importância em sala de aula, em muitos momentos é acomodado e não se percebe como agente mediador do conhecimento. Muito ainda se dá a sua formação inicial, como foi preparado durante o início da vida escolar aonde não podia emitir nenhuma opinião, professor falava e o aluno fingia que ouvia e entendia. Os assuntos eram passados e tidos como verdades sem promover diálogos e questionamentos ficava calado e admirado com todo o saber que o professor achava que tinha, pois também vinha de uma escola que detinha todo o conhecimento. Mas, hoje sentimos necessidade e urgência de uma nova postura do professor a escola não possui todo o conhecimento e o professor não é apenas um profissional da prática ele precisa da teoria para deixar de falar: “Eu tenho bastante prática e sei o que estou fazendo”. (verdade)
O novo professor, uma exigência da sociedade moderna, é um sujeito que busca uma formação em serviço, pois ele é desafiado a criar grandes projetos de conhecimento aliados à pesquisa, vivenciando na sala de aula a realidade do aluno. A busca pelo conhecimento demanda sua criação e a participação efetiva dos alunos.
O professor não percebe que através do comprometimento com sua formação poderá observar melhor e auxiliar seus alunos em sala de aula, utilizar verdadeiramente os conhecimentos adquiridos durante sua caminhada acadêmica em benefício do aluno. E não simplesmente passar pela universidade como turista sem perceber o “por que” de estar ali.
Conforme pontuou Pimenta (1995), a formação do professor não se esgota nos cursos de formação, pois um curso não compreende todos os preceitos metodológicos requeridos na prática pedagógica.
O que se percebe nas conversas de muitos professores é que o aluno não conta nesse processo de aprendizagem, mas que o mesmo acaba não aproveitando “tudo” o que o professor adquiriu de conhecimento na sua formação. O aluno não consegue mais “engolir” todo o conhecimento que o professor acha que tem para ensinar. O professor não percebe que o aluno pede por uma mudança em sua postura e continua frustrado em seu trabalho acreditando que a nova geração não quer nada com nada. Porém, se o professor olhasse realmente para o aluno veria um sujeito carente de conhecimento e diálogo e só assim conseguiria modificar sua prática com o auxílio das teorias estudadas durante seu processo de formação.
O “ser professor”, quando comprometido com sua profissão, é um ser que se defronta diariamente com o desafio de inovar sua práxis. É um ser que não esquece os problemas como um simples apertar botões. Ser professor exige identidade, vocação e significação daquilo que se busca oferecer à sociedade por meio da profissão. (KIECKHOEFEL,2007).
Professor é envolver-se com a profissão, muito mais do que entrar em sala de aula e fingir que está exercendo a profissão. É apaixonar-se a cada dia pelo que faz, orgulhando-se dos desafios que consegue vencer junto com seus alunos baseando-se sempre em pesquisas e na prática adquirida durante sua caminhada na educação. Professor não pode pensar que aprendeu o suficiente, deve caminhar sempre buscando novos conhecimentos e trocando com os sujeitos que estão ao seu redor.
Ramos coloca que aprender e ensinar auxilia o professor no seu ofício diário de planejar e refletir sobre as atividades da sala de aula. Ademais, traz informações variadas e oferece soluções criativas para que o mesmo emancipe ao emancipar-se.
Mesmo que as condições nas instituições em que o professor atue não favoreçam grandes e maravilhosos trabalhos ele precisa pensar e criar em cima do que tem buscando sempre inovar o que irá trabalhar com seus alunos. Olhar para sua sala de aula e perceber que atividades adequadas à realidade e as reais necessidades dos alunos irá desenvolver, para que todos consigam acreditar que podem aprender. Ser um constante pesquisador e utilizar-se de seus conhecimentos para sempre planejar sua prática diária. A formação não se constrói por acumulação de cursos, conhecimentos ou técnicas, mas por meio de um trabalho de reflexão crítica, em serviço, sobre a prática. (RAMOS, 2008)
Vemos em muitos momentos professores orgulhosos de seus títulos e cursos, mas na sala de aula e até mesmo com os colegas de trabalho não sabem o que fazer com tanto conhecimento adquirido. O diálogo precisa acontecer entre o que se conhece e o meio que está inserido para que todo o conhecimento que se busca tenha realmente seu valor, pois, só se tornará útil trocando as ideias com o outro. O conhecimento não pode ficar acumulado e “parado” nas mentes ele precisa circular para renovar-se sempre.
Para Piaget (1970), a formação de professores é longa e complexa, uma vez que é importante ao professor tomar consciência do que faz ou pensa a respeito de sua prática pedagógica, numa perspectiva crítica das atividades e procedimentos implementados na sala de aula, bem como dos valores culturais de sua função, adotando uma postura de pesquisador e não apenas de transmissor, tendo em vista um melhor conhecimento acerca dos conteúdos escolares e das características do desenvolvimento e aprendizagem de seus alunos.
Ser professor é muito complexo, diferente do que muitos pensam. Estar na sala de aula é doar-se plenamente e não apenas fingir que é um educador. O professor é um sujeito que vive aprendendo, seu conhecimento não está pronto e acabado e isto deve estar bem claro para ele durante sua trajetória na educação. Refletir sua prática com o olhar nas teorias estudadas deve fazer parte do cotidiano do professor, não acomodar-se com o sistema de ensino que aí está, e sim querer aprender sempre e mais para que os alunos possam participar desse processo de formação.
O professor sujeito direto e responsável pelo diálogo entre teoria e prática precisa deixar estes momentos se unirem para poder fazer de sua sala de aula um verdadeiro laboratório de conhecimento, saber o que fazer dentro da sala com tudo o que busca durante sua formação contínua. Olhar o aluno como sujeito que “está” naquele momento, mas que através da troca e interação irá evoluir sempre mais.
O professor pode ser visto como o Nicolau que ao chegar à sua “cidade”, a sala de aula deve passar sua idéia para os outros e juntos se alimentar de novas idéias, sempre tendo em mente que com apenas uma idéia não se consegue chegar longe.
Autora: Rosania Soares Carminati

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